Arte Românica

Arte românica é o nome dado ao estilo artístico vigente na Europa entre os séculos XI e XIII, durante o período da história da arte comummente conhecido como "românico". O estilo é visto principalmente nas igrejas católicas construídas após a expansão do cristianismo pela Europa e foi o primeiro depois da queda do Império Romano a apresentar características comuns em várias regiões. Até então a arte tinha se fragmentado em vários estilos, sendo o românico o primeiro a trazer uma unidade nesse panorama.

O românico
A arte em si é mais antiga que o termo românico, empregado a partir da década de 1820 por Charles de Gerville e Le Prevost, e usado sistematicamente pelo arqueólogo Arcisse de Caumont, que conseguiu baptizar com esse termo as construções hoje conhecidas como tais (embora ele tenha incluído também exemplares de períodos anteriores). A arte hoje dita românica foi, por assim dizer, redescoberta, visto que por um longo tempo foi desprezada, escondida debaixo de reformas e outros estilos, ou mesmo ignorada e destruída.

História
Depois de passar por muitas turbulências, desde o fim do Império Romano até ao século XI, aproximadamente, a Europa medieval vive um momento de estabilidade e crescimento. O comércio volta a florescer e as cidades começam a prosperar, mesmo que timidamente.
Até então a arte era difusa e diferente entre os variados povos europeus. Isso mudaria com o "crescente entusiasmo religioso", cujas causas são, entre outros factores, as peregrinações que cresceram e as Cruzadas para libertar a Terra Santa. Com todas essas mudanças é plausível o nome românico, visto que a Europa se romanizou como nunca desde o início da Idade Média. A única coisa que faltava, a autoridade política central, foi, até certo ponto, ocupada pelo Papa. Sem um poder nas mãos de um único rei, é a Igreja que centralizará o controle sobre o pensamento e a vida da época e será a primeira responsável pela unificação da Europa desde a queda do Império Romano.
Esse crescimento religioso reflectir-se-ia na construção de inúmeras igrejas. Nas palavras do monge Raoul Glaber, citado por Ramalho, "à medida que se aproximava o terceiro ano após o ano 1000, via-se em quase todo o universo, em particular na Itália e nas Gálias, a reconstrução das basílicas religiosas... Era como se o mundo sacudisse de si o pó do tempo, para despojar-se da sua vetustez, e quisesse revestir-se, por toda a parte, de um manto branco de igrejas". Essas igrejas serão mais numerosas e maiores que todas as outras precedentes, o que explica em parte o entusiasmo de Glaber.

Características
Haverá diferenças entre a arte executada nas diversas regiões europeias, de acordo com as influências regionais recebidas, mas haverá também uma série de características comuns, que definem o estilo românico.
As igrejas serão as maiores até então, e para que isso seja possível haverá uma evolução dos métodos construtivos e dos materiais. A pedra será empregada na construção e o telhado de madeira será trocado por abóbadas de berço e de aresta., mais condizentes com uma igreja que representa a fortaleza de Deus.
Ao contrário da arte paleocristã, as igrejas serão ricamente decoradas externamente. A escultura em pedra em grande escala renasce pela primeira vez desde os romanos, atrelada à arquitectura, assim como a pintura. A escultura e a pintura serão carregadas de esquematização e simbolismo, típico de um período em que o artista aprende a representar o que sente, e não somente o que vê.

Igrejas de Peregrinação

















As igrejas de peregrinação foram muito características desse período. Elas ficavam no caminho para os locais sagrados, como Santiago de Compostela, Roma e Jerusalém, e serviam de apoio e pouso para os peregrinos, além de oferecer como atractivo as relíquias, objectos pertencentes a Jesus Cristo, a Maria e aos santos, como os cravos que pregaram as mãos e pés de Jesus, ou os espinhos da coroa, ou ainda fios de cabelo da Virgem.
Essas igrejas seguiam a planta em forma de cruz latina, com várias nave , geralmente 3 ou 5, em que as naves laterais se prolongavam e passavam por detrás da ábside, formando o deambulatório. Do deambulatório saiam as capelas radiantes, ou absidíolas. Esse conjunto era característico das igrejas de peregrinação e ficou conhecido como cabeceira de peregrinação. Entre as igrejas desse tipo estão as de Saint-Sernin de Toulouse, Santiago de Compostela, Santa Madalena de Vézelay e Igreja de Saint-Martin de Tours.

Os mosteiros
Os mosteiros foram importantes para o estabelecimento da arquitectura românica, principalmente os das ordens de Cluny e Cister. Desse conjunto característico, a dependência a se destacar é o claustro, por vincular o mosteiro ao templo e por ser a dependência mais bem cuidada do ponto de vista artístico. Geralmente possuem quatro lados, com tendência a formar quadrados perfeitos, e quatro corredores resultantes em pórticos abertos com arcadas sustentadas por colunas.

Expressões
-Arquitectura
A arquitectura em pedra vem reforçar a característica de monumentalidade e fortaleza, possível depois de toda a evolução dos meios construtivos. Os conjuntos arquitectónicos seguem, geralmente, a planta basilical, uma, três ou cinco naves (geralmente três), colunas que sustentavam as abóbadas e um aspecto maciço e horizontal (mesmo que muitas das igrejas sejam bem altas). As paredes são cegas, pois não é possível, ou é muito difícil, abrir grandes janelas nas paredes, já que elas servem como estrutura e suportam todo o tecto. Haverá grande decoração, externa e internamente, através de esculturas nos tímpanos nas portas de entrada e nos capitéis e colunas, e pintura parietal nas ábsides e abóbadas das naves.

-Escultura
A escultura renasceu no românico, depois de muitos anos esquecida. O seu apogeu dá-se no século XII, quando se inicia um estilo realista, mas simbólico, que antecipa o estilo gótico. A escultura é sempre condicionada à arquitectura e todo trabalho é executado sem deixar espaços sem uso. As figuras entalhadas têm o tamanho do elemento onde foram esculpidas, e os trabalhos de superfície acomodam-se no lugar em que ocupam. Dessa característica parte também a ideia de esquematização.
Outra importante característica é seu carácter simbólico e antinaturalista. Não havia a preocupação com a representação fiel dos seres e objectos. Volume, cor, efeito de luz e sombra, tudo era confuso e simbólico, representando muitas vezes coisas não terrenas, mas sim provenientes da imaginação. Não que isso seja uma constante em todo o período. Em algumas esculturas, nota-se a aparência clássica, influência da Antiguidade, como no Apóstolo, de Saint-Sernin de Toulouse.

-Pintura
A pintura não se destacou tanto quanto a arquitectura nesse período. Os principais trabalhos são a pintura mural, as iluminuras e as tapeçarias. A pintura parietal, ou seja, executada nas paredes, era dependente da arquitectura, como se pode deduzir, tendo aquela somente função didáctica. Num período em que a grande maioria da população era analfabeta a pintura era uma forma de transmitir os ensinamentos do Cristianismo.

Sem comentários:

Enviar um comentário